Mas porque Almas Castelos? Eu conheci algumas. São pessoas cujas almas se parecem com um castelo. São fortes e combativas, contendo no seu interior inúmeras salas, cada qual com sua particularidade e sua maravilha. Conversar, ouvir uma história... é como passear pelas salas de sua alma, de seu castelo. Cada sala uma história, cada conversa uma sala. São pessoas de fé flamejante que, por sua palavra, levam ao próximo: fé, esperança e caridade. São verdadeiras fortalezas como os muros de um Castelo contra a crise moral e as tendências desordenadas do mundo moderno. Quando encontramos essas pessoas, percebemos que conhecer sua alma, seu interior, é o mesmo que visitar um castelo com suas inúmeras salas. São pessoas que voam para a região mais alta do pensamento e se elevam como uma águia, admirando os horizontes e o sol... Vivem na grandeza das montanhas rochosas onde os ventos são para os heróis... Eu conheci algumas dessas águias do pensamento. Foram meus professores e mestres, meus avós e sobretudo meus Pais que enriqueceram minha juventude e me deram a devida formação Católica Apostolica Romana através das mais belas histórias.

A arte de contar histórias está sumindo, infelizmente.

O contador de histórias sempre ocupou um lugar muito importante em outras épocas.

As famílias não têm mais a união de outrora, as conversas entre amigos se tornaram banais. Contar histórias: Une as famílias, anima uma conversa, torna a aula agradável, reata as conversas entre pais e filhos, dá sabedoria aos adultos, torna um jantar interessante, aguça a inteligência, ilustra conferências... Pense nisso.

Há sempre uma história para qualquer ocasião.

“Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc. 16:15)

Nosso Senhor Jesus Cristo ensinava por parábolas. Peço a Nossa Senhora que recompense ao cêntuplo, todas as pessoas que visitarem este Blog e de alguma forma me ajudarem a divulga-lo. Convido você a ser um seguidor. Autorizo a copiar todas as matérias publicadas neste blog, mas peço a gentileza de mencionarem a fonte de onde originalmente foi extraída. Além de contos, estórias, histórias e poesias, o blog poderá trazer notícias e outras matérias para debates.

Agradeço todos os Sêlos, Prêmios e Reconhecimentos que o Blog Almas Castelos recebeu. Todos eles dou para Nossa Senhora, sem a qual o Almas Castelos não existiria. Por uma questão de estética os mesmos foram colocados na barra lateral direita do Blog. Obrigado. Que a Santa Mãe de Deus abençoe a todos.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Olhando só para Ele


Conta-se que Ciro, rei da Pérsia, durante uma de suas campanhas venceu e aprisionou um príncipe da Líbia. O príncipe foi levado ao rei vencedor juntamente com sua esposa e filhos.
Ciro perguntou-lhes:

- Que me dás se te conceder a liberdade?

- A metade do meu reino – foi a resposta.

- E se der a liberdade, também, a teus filhos?

- Entrego-te, nesse caso, a outra metade do meu reino.

- Que me darás, então, pela liberdade de tua esposa? – tornou o rei persa.

O príncipe percebeu que tinha agido precipitadamente ao oferecer tudo o que tinha, esquecido de sua companheira; depois de meditar um momento declarou com firmeza:

- Entrego-me a mim mesmo pela liberdade de minha esposa.

O grande rei ficou tão surpreso ao ouvir esta resposta que concedeu liberdade a toda a família sem exigir resgate nem fiança.

Ao regressar a casa, perguntou o príncipe à sua esposa se não havia reparado na fisionomia serena e altiva do soberano persa.

A delicada esposa respondeu:

- Não olhei absolutamente para nada, porque tinha os meus olhos fixos naquele que estava disposto a dar-se a si mesmo pela minha liberdade.

Felizes seríamos se esta resposta pudesse ser a confissão dos nossos corações ao nos referirmos a Cristo! Esforcemo-nos para que os nossos olhos estejam sempre fixos naquele que, não somente estava disposto a entregar-se por nós, mas que realmente sacrificou sua vida para salvar-nos. Que nossa atenção se fixe em Cristo de tal modo que não tenhamos ocasião de olhar para o mundo, nem para as faltas e defeitos de nossos irmãos. Certo é que se assim o fizermos seremos transformados, como diz São Paulo, à imagem de Sua glória.

(Lendas do Céu e da Terra – autor D.)

terça-feira, 28 de junho de 2011

Alguém reza por voce: Os Cartuxos


Quem procurar no meu blog, vai encontrar algumas postagens sobre São Bruno, os frades cartuxos e sobre a Cartuxa. Os licores que eles produzem são uma preciosidade. Além do silencio, os monges trabalham cultivando a terra, plantando, trabalhando em diversas atividades, enfim, vivendo uma vida perfeitamente cristã. A Cartuxa é sem dúvida alguma uma ordem religiosa sem igual. Muitas vezes questionamos: “Somos pecadores, e no entanto Deus nos dá tantas graças maravilhosas... Sabe por que? Porque em alguma parte do mundo os cartuxos estão rezando por você....”

O mundo das orações e sacrifícios é um mundo santo. “Rezai e fazei penitência” – disse Nossa Senhora de Fátima. E quando nós rezamos um simples “Pai Nosso” e uma simples “Ave Maria” achamos que já fizemos nossa obrigação. Quanto tempo nós desperdiçamos nas coisas do mundo, e para Deus quanto tempo dedicamos? Não nos esqueçamos que Deus nos criou para conhece-Lo, amá-Lo e servi-Lo. No trabalho, nos estudos, na nossa família, em nosso dia-a-dia, tudo devemos fazer sempre no intuito de agradar e servir a Deus.

Quem quiser conhecer um pouco mais sobre os cartuxos e o famoso licor por eles produzido, recomendo as seguintes postagens:

http://almascastelos.blogspot.com/2010/08/o-medico-ateu.html
http://almascastelos.blogspot.com/2010/09/cartuxa-os-cartuxos-e-o-chatreuse.html

Aqui segue a história de hoje:

Entre as ordens religiosas existentes no mundo uma das mais singulares é, sem dúvida, a ordem dos frades cartuxos, fundada por São Bruno.

Os frades cartuxos obedecem a uma disciplina extremamente severa e fazem voto de silencio.

Pela manhã assistem, em conjunto, à missa e cantam; fazem apenas uma refeição diária e os dias sem pronunciar palavra, em preces e meditações.
Cada frade cartuxo tem a sua cela num pavilhão isolado; em cada cela existe o leito do religioso, um crucifixo e, ao lado do leito, cavada no chão, uma sepultura aberta. Isso é feito para que o frade silencioso, que passa a vida em penitência, medite a cada momento sobre a morte.


Na cidade de Burgos, na Espanha, ergue-se atualmente um pequeno mosteiro de frades cartuxos. Na igreja desse mosteiro existe uma imagem de São Bruno que é um trabalho de rara perfeição. Quem observa essa imagem tem a impressão de que se trata de uma figura viva colocada, entre flores, no altar.

Certa vez, um viajante, acompanhado de um guia, visitava a igreja dos frades cartuxos. Ao dar de rosto com a imagem admirável de São Bruno não pode conter a admiração e exclamou:

- É perfeita! Só falta falar!

- Engana-se, senhor – respondeu, respeitoso, o guia. – Essa imagem é perfeita precisamente porque não fala. São Bruno era cartuxo, não falava!

Eis o caso único em que, diante de uma figura, reprodução artística de um ser humano, não seria aceitável a expressão corrente: “só falta falar”.

(fonte: "A Estrela dos Reis Magos - Malba Tahan)

domingo, 26 de junho de 2011

Verdadeiro amor a Deus


Não me move, meu Deus, para querer-te
O céu que me hás um dia prometido:
E nem me move o inferno tão temido
Para deixar por isso de ofender-te.

Tu me moves, Senhor, move-me o ver-te
Cravado nessa cruz e escarnecido.
Move-me no teu corpo tão ferido
Ver o suor de agonia que ele verte.

Moves-me ao teu amor de tal maneira,
Que a não haver o céu, ainda te amara
E a não haver o inferno te temera.

Nada me tens que dar porque te queira;
Que se o que ouso esperar não esperara,
O mesmo que te quero te quisera.

(Santa Tereza de Jesus)

quinta-feira, 23 de junho de 2011

De Maria nunquam satis

Todos os dias, dum extremo da terra ao outro, no mais alto dos céus, no mais profundo dos abismos, tudo prega, tudo exalta a incomparável Maria. Os nove coros de anjos, os homens de todas as idades, condições e religiões, os bons e os maus.

Os próprios demônios são obrigados, de bom ou mau grado, pela força da verdade, a proclamá-la bem-aventurada. Vibra nos céus, como diz São Boaventura, o clamor incessante dos anjos: Sancta, sancta, sancta Maria, Dei Genitrix et Virgo; e milhões e milhões de vezes, todos os dias, eles lhe dirigem a saudação angélica: Ave, Maria..., prosternado-se diante dela e pedindo-lhe a graça de honrá-la com suas ordens.

E a todos se avantaja o príncipe da corte celeste, São Miguel, que é o mais zeloso em render-lhe e procurar toda a sorte de homenagens, sempre atento, para ter a honra de, à sua palavra, prestar um serviço a algum dos seus servidores.

Toda a terra está cheia de sua glória, particularmente entre os cristãos, que a tomam como padroeira e protetora em muitos países, províncias, dioceses e cidades. Inúmeras catedrais são consagradas sob a invocação do seu nome.

Igreja alguma se encontra sem um altar em sua honra; não há região ou país que não possua alguma de suas imagens milagrosas, junto das quais todos os males são curados e se obtêm todos os bens. Quantas confrarias e congregações erigidas em sua honra! Quantos institutos e ordens religiosas abrigados sob seu nome e proteção! Quantos irmãos e irmãs de todas as confrarias, e quantos religiosos e religiosas a entoar os seus louvores, a anunciar as suas maravilhas!

Não há criancinha que, balbuciando a Ave-Maria, não a louve; mesmo os pecadores, os mais empedernidos, conservam sempre uma centelha de confiança em Maria. Dos próprios demônios no inferno, não há um que não a respeite, embora temendo.

Depois disto é preciso dizer, em verdade, com os santos:

De Maria nunquam satis... Ainda não se louvou, exaltou, amou e serviu suficientemente a Maria, pois muito mais louvor, respeito, amor e serviço ela merece.

É preciso dizer, ainda, com o Espírito Santo: Omnis gloria eius filiae Regis ab intus – Toda a glória da Filha do Rei está no interior (Sl 44, 14), como se toda a glória exterior, que lhe dão, a porfia, o céu e a terra, nada fosse em comparação daquela que ela recebe no interior, da parte do Criador, e que desconhecem as fracas criaturas, incapazes de penetrar o segredo dos segredos do Rei.

Devemos, portanto, exclamar com o apóstolo: Nec oculus vidit, nec auris audivit, nec in cor hominis ascendit (1Cor 2, 9) – os olhos não viram, o ouvido não ouviu, nem o coração do homem compreendeu as belezas, as grandezas e excelências de Maria, o milagre dos milagres da graça, da natureza e da glória. Se quiserdes compreender a Mãe – diz um santo – compreendei o Filho. Ela é uma digna Mãe de Deus: Hic taceat omnis lingua – Toda língua aqui emudeça.

Meu coração ditou tudo o que acabo de escrever com especial alegria, para demonstrar que Maria Santíssima tem sido, até aqui, desconhecida, e que é esta uma das razões por que Jesus Cristo não é conhecido como deve ser. Quando, portanto, e é certo, o conhecimento e o reino de Jesus Cristo tomarem o mundo, será uma conseqüência necessária do conhecimento e do reino da Santíssima Virgem Maria. Ela o deu ao mundo a primeira vez, e também, da segunda, o fará resplandecer.

(TRATADO DA VERDADEIRA DEVOÇÃO À SANTÍSSIMA VIRGEM - São Luís Maria Grignion de Montfort - 19ª edição – Editora Vozes – Petrópolis, 1992)
(A foto pertence a Revista Catolicismo de Maio de 2011 - Tiziano faz seu primeiro esboço – William Dyce, séc. XIX. Coleção privada)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A esmola e o rochedo

Havia outrora, em país situado para além do Ganges, um rei muito rico e orgulhoso. Todos os dias deixava o monarca o grande palácio em que vivia e, fazendo-se acompanhar de uma aparatosa guarda de cavaleiros, percorria as ruas da cidade distribuindo esmolas, atirando moedas de ouro aos pobres e necessitados.

- Como é caridoso o rei! - diziam. - Quanta bondade! Que coração magnânimo!

E não se apontava um só habitante capaz de negar as qualidades altruísticas do dadivoso soberano.

Um dia surgiu na cidade um velho sacerdote que andava pelo mundo em peregrinação, ensinando aos homens as grandes verdades do livro de Deus. Ao notar a ostentação descabida com que o rei dava esmolas e a maneira espetaculosa como exercia a caridade, o bom ancião observou:

- A caridade no coração desse rei vaidoso é como a areia atirada sobre o rochedo nu!

E, como os seus numerosos ouvintes não tivessem percebido o sentido exato de suas palavras, ele explicou:

- Aquele que dá esmolas por ostentação é semelhante ao rochedo coberto de areia. Vem a chuva, lava a pedra lisa, e não se encontra depois senão a rocha dura e inabalável. Assim, o coração desse rei é duro como o rochedo; há apenas, sobre ele, essa poeira de esmola feita de vaidade e ostentação!

Bem dizia o poeta:

“Se queres que a caridade avulte
e se engrandeça aos olhos do Senhor,
leva na mão benfazeja
socorro a quem quer que seja, conforto seja a quem for.
Mas dize à mão que se oculte para que o mundo a não veja...”


Malba Tahan

sábado, 18 de junho de 2011

Pai, começa o começo?

MINHAS PALAVRAS INICIAIS: Sou o primogênito de uma família de cinco filhos. Muitas coisas aprendi com meu pai, que também era primogênito. Até no seu leito de morte meu pai me ensinou, pois encerrou sua vida como um verdadeiro católico. Estava na UTI do hospital, mas sempre fazendo o bem, e recebendo os sacramentos necessários apresentou-se diante de Deus. Isso já havia acontecido antes com meu bisavô materno. Portanto falar de meu pai me causa profunda e dolorosa saudade e grande entusiasmo pela fé católica.

Uma passagem bíblica sempre me chamou a atenção:
“conforme o que está escrito na lei do Senhor: Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor” (Evangelho de São Lucas, 2, 23).

Aqui começa a história de hoje:

Quando eu era criança e pegava uma tangerina para descascar, corria para meu pai e pedia:

- Pai, começa o começo!

O que eu queria era que ele fizesse o primeiro rasgo na casca, o mais difícil e resistente para as minhas pequenas mãos. Depois, sorridente, ele sempre acabava descascando toda a fruta para mim. Mas, outras vezes, eu mesmo tirava o restante da casca a partir daquele primeiro rasgo providencial que ele havia feito.

Meu pai faleceu há muito tempo, não sou mais criança. Mesmo assim, sinto grande desejo de tê-lo ainda ao meu lado para, pelo menos, “começar o começo” de tantas cascas duras que encontro pelo caminho. Hoje, minhas “tangerinas” são outras. Preciso “descascar” as dificuldades dotrabalho, os obstáculos, os problemas no núcleo familiar, o esforço diário que é a construção do casamento, os retoques e pinceladas de sabedoria na imensa arte de viabilizar filhos realizados e felizes, ou então, o enfrentamento sempre tão difícil de doenças, perdas, traumas, separações, mortes, dificuldades financeiras e, até mesmo, as dúvidas e conflitos que nos afligem diante de decisões e desafios.

Em certas ocasiões, minhas tangerinas transformam-se em enormes abacaxis......

Lembro-me, então, que a segurança de ser atendido pelo papai quando lhe pedia para “começar o começo” era o que me dava a certeza que conseguiria chegar até ao último pedacinho da casca e saborear a fruta. O carinho e a atenção que eu recebia do meu pai me levaram a pedir ajuda a Deus, meu Pai do Céu, que nunca morre e sempre está ao meu lado. Meu pai terreno me ensinou que Deus, o Pai do Céu, é eterno e que Seu amor é a garantia das nossas vitórias.

Quando a vida parecer muito grossa e difícil, como a casca de uma tangerina para as mãos frágeis de uma criança, lembre-se de pedir a Deus:

“Pai, começa o começo!” Ele não só “começará o começo”, mas resolverá toda a situação para você.

Não sei que tipo de dificuldade eu e você estamos enfrentando ou encontraremos pela frente neste ano. Sei apenas que vou me garantir no Amor Eterno de Deus para pedir, sempre que for preciso: “Pai, começa o começo!”

Autor desconhecido

sexta-feira, 17 de junho de 2011

A Tradição e os nossos costumes


Em Direito a palavra Tradição significa entrega. Quando se vende e se compra uma casa, por exemplo, opera-se a tradição, ou seja, entrega-se o bem para quem o comprou. Porém Tradição não significa entrega só de bens materiais, mas também entrega de bens intelectuais. Um avô que transmite aos seus netos o que aprendeu com os seus antepassados pratica a tradição.

Alguns de nossos costumes modernos tiveram origem na Antiguidade, embora nem todos saibam disso. Vejamos um pouco de história.

CRENÇAS A RESPEITO DA ALMA E DA MORTE

Os povos da antiguidade acreditavam na existência da alma. Prova disso são os ritos fúnebres da antiguidade. Os ritos fúnebres mostram claramente que quando colocavam um corpo na sepultura acreditavam enterrar algo vivo, ou seja a alma. Virgílio, que sempre descreve com tanta precisão e escrúpulo as cerimônias religiosas, termina a narração dos funerais de Polidoro com estas palavras: “Encerramos a alma do túmulo.” — Idêntica expressão encontra-se em Ovídio e em Plínio, o Jovem.

Os mortos eram considerados criaturas sagradas. Os antigos tinham por eles toda a veneração que o homem pode ter para com a divindade, que ama e teme. Segundo seu modo de pensar, cada morto era um deus.

Os povos latinos chamavam essas almas, em sua linguagem arcaica, de lares.

O FOGO SAGRADO

A casa do grego ou do romano obrigava um altar; sobre esse altar devia haver sempre um pouco de cinza e carvões acesos. Era obrigação sagrada, para o chefe de cada casa, manter aceso o fogo dia e noite. Infeliz da casa onde se apagasse! Cada noite cobriam-se de cinza os carvões, para impedir que se consumissem por completo; pela manhã, o primeiro cuidado era reavivar o fogo, e alimentá-lo com ramos. O fogo não cessava de brilhar diante do altar senão quando se extinguia toda uma família; a extinção do fogo e da família eram expressões sinônimas entre os antigos.

Não era permitido alimentar esse fogo com qualquer espécie de madeira; a religião distinguia, entre as árvores, as que podiam ser usadas para esse fim, e aquelas cujo uso era taxado de impiedade.

O fogo era algo divino, que era adorado e cultuado. Ofertavam-lhe tudo o que julgavam agradável a um deus: flores, frutos, incenso, vinho. Pediam sua proteção, julgando-o todo-poderoso. Dirigiam-lhe preces ardentes, para dele obter os eternos objetos dos desejos humanos: saúde, riqueza, felicidade.

A RELIGIÃO DOMÉSTICA

Nessa religião primitiva cada deus só podia ser adorado por uma família. A religião era puramente doméstica. O culto dos mortos era, verdadeiramente, o culto dos antepassados.

O que une os membros da família antiga é algo mais poderoso que o nascimento, que o sentimento, que a força física: é a religião do fogo sagrado e dos antepassados. A família antiga é mais uma associação religiosa que uma associação natural. Assim, a mulher será realmente levada em conta quando for iniciada no culto, com a cerimônia sagrada do casamento.

O ser humano sempre foi eminentemente religioso. Desde a antiguidade até nossos dias encontramos os homens tendo seu culto religioso.

A família era chamada de gens (provavelmente de genes = família). Na gens era cultuado o fogo sagrado, e por se tratar do culto dos próprios antepassados, o culto tinha seus segredos e a peculiaridade de cada família. Entrar numa casa sem ser convidado, era o mesmo que profanar o templo, e podia ser punido com a própria morte.

Quando uma gens (ou família) crescia muito, levava-se uma parcela do fogo sagrado para outro lugar e lá criava-se uma extensão da gens. Quando ficava muito numerosa, a reunião das gens com o mesmo culto sagrado, era chamado de Cúria. A Cúria elegia um chefe: o curião.

A essa reunião de famílias os gregos chamavam de frátrias e o romanos de cúrias. Crescendo o número de Cúrias com a mesma religião sagrada e doméstica, formava-se uma Tribo.

A tribo, como a família e a fratria, estava constituída para ser um corpo independente, porque tinha culto especial, do qual os estranhos eram excluídos. Uma vez formado, nenhuma nova família podia ser nela admitida. Duas tribos também não podiam fundir-se em uma: a religião opunha-se a isso. Mas, assim como várias fratrias se haviam unido em uma tribo, várias tribos puderam associar-se entre si, com a condição de que o culto de cada uma fosse respeitado. No dia em que se fez essa aliança, a cidade começou a existir.

Ora, a família é a célula básica da sociedade. Destruir a família é o mesmo que destruir a pátria ou a religião. Então quando um governador era eleito, precisava tomar muito cuidado, pois se descontentasse uma família era guerra na certa... e as famílias patriarcais eram muito numerosas naquela época....

Em cada casa havia um altar e ao redor dele, toda manhã, ali se reuniam para suas orações, hinos, libações, bebidas e alimentos. O casamento foi a primeira instituição estabelecida pela religião doméstica, contudo não comunicava uma família com outra, ou os rituais de duas famílias, porque o direito de realizar os ritos era transmitido de varão para varão. A mulher, ao casar, passava a adorar os antepassados do esposo; a cerimônia de casamento a impedia de adorar os deuses de seu pai e ao mesmo tempo impunha os de outra linhagem masculina.

AS ORIGENS DE ALGUNS COSTUMES MODERNOS:

Os povos da antiguidade faziam tudo em função dos deuses. Assim, nos jogos olímpicos, queriam a presença dos deuses para que fossem homenageados com os jogos. Então um grego pegava uma tocha acesa no fogo sagrado e levava até um lugar de honra, onde os deuses pudessem observar os jogos. Daí nosso costume até hoje, nos jogos olímpicos de, na abertura, levar uma pira olímpica até o local indicado e lá acender a grande tocha olímpica.

Se lares era o nome que se davam para as almas, o lugar onde se cultua os lares chama-se LAR. Daí a origem do nome LAR.

Toda casa tinha um altar onde ardia o fogo sagrado. Esse altar dedicado aos lares é a LAREIRA.

Para colocar uma divisa entre a rua e o recinto sagrado em toda a porta se colocava uma faixa de cor diferente para sinalizar: “a partir daqui é o Lar sagrado, não entre”. Até hoje colocamos em nossas portas uns azulejos ou pisos diferentes chamados “soleiras”.

Quando uma mulher se casava, ela precisava prometer esquecer os ritos do culto doméstico de seus familiares para adotar os novos cultos da família do marido, pois iria morar com ele. Então para dizer que entrou para a família do marido, adotava seu sobrenome. Costume esse usado em nossos dias.

A mulher não poderia entrar na família do seu marido, em sua casa, sem ser entronizada solenemente, pois se ultrapassasse a soleira da porta sem autorização, estaria cometendo um sacrilégio. Então era preciso uma cerimônia de entronização. E como era essa cerimônia? O marido pegava a esposa no colo, e ultrapassava a soleira da casa, entronizando-a dessa forma em sua família. Até nossos dias perdura o costume de carregar a noiva no colo quando se casa.

Fonte: A Cidade Antiga – Fustel de Coulanges
A História de Grécia e Roma na antiguidade.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O cão morto


Uma fábula oriental descreve um ajuntamento de ociosos em pequeno mercado nos arredores de Jerusalém, em torno de um cão morto que ainda mostrava, amarrada ao pescoço, a corda com que o haviam arrastado pelo chão. Os que o cercavam, olhavam-no com repugnância.

- Empesta o ar - disse um, apertando o nariz com os dedos e trejeitando uma careta de nauseado.

- Reparem na sua pele rasgada que nem para correias de sandália serve - galhofava um outro.

Um egípcio corpulento aludiu às orelhas sujas e sangrentas do animal, e rematou com voz empastada:

- Foi, sem dúvida, enforcado por ladrão.

Desse grupo de homens aproximou-se um desconhecido que ouvira os diversos comentários. Em seu rosto resplandecia estranha luz e todo o seu porte indicava dignidade fora do comum. Pondo os olhos meigos no animal morto e vilipendiado, disse em seu belo e límpido arameu:

- As pérolas desmerecem diante da alvura dos seus dentes.

Todos os circunstantes voltaram-se para ele com assombro, e, vendo-o tão sereno e compadecido, indagavam, entredentes, uns aos outros, quem poderia ser aquele homem. E retiraram-se cabisbaixos, envergonhados, quando alguém alvitrou:

- “Deve ser Jesus, o rabi de Nazaré, que só Ele sabe encontrar qualquer coisa digna de piedade e aprovação, até mesmo num cão morto!”

(Lendas do bom rabi - Malba Tahan)

domingo, 12 de junho de 2011

As fontes da terra

Durante uma seca terrível que assolou as Novas Hébridas, um religioso, homem de ciência, foi alvo do desprezo dos naturais pelo fato de cavar poços para achar água. Diziam que a água sempre vinha de cima e não debaixo, pela terra. O geólogo, porém, revelou-lhes uma verdade mas ampla que nunca lhes tinha ocorrido e mostrou-lhes como os céus podiam dar-lhes água do seio da própria terra.

Assim, os homens esperam insistentemente que Deus lhes mande bênçãos por meios anormais, enquanto Ele lhes dá suprimento abundante de que gozariam se procurassem nos lugares férteis dos próprios espíritos, onde, como disse Jesus, as fontes de águas vivas querem nascer.

Encontram-se, às vezes, árvores verdes e frutíferas, em terras secas, onde não há quase chuvas.

Após exame cuidadoso, se tem observado que tais árvores permanecem frescas, frutíferas e verdes, por que suas raízes são banhadas pelas correntes d’água escondidas no seio da terra.

Podemos ficar surpresos quando encontramos homens de oração, repletos de paz, radiantes de alegria, tendo vidas nobres e eficientes, no meio da miséria deste mundo. É porque, pela oração, as raízes de sua fé chegam a Fonte da Água Viva e retiram dela energia e vida e produzem frutos para a vida eterna.

Autor D. (Lendas do Céu e da Terra)

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Os passos de um aventureiro (parte 3)


Com essa postagem finalizo o tema sobre o Beato José de Anchieta:

A saga do Padre Anchieta, o missionário religioso que há quatro séculos enfrentou tempestades, onça e até canibais para catequizar os índios brasileiros (Por Liane Camargo de Almeida Alves)

“Revista Terra, Agosto de 1997, nº 8, edição 64, páginas 31 a 35.”

Ele dormia só quatro a cinco horas por noite, de roupa e sem lençóis, pronto para se levantar se fosse preciso. Ensinava gramática em três classes diferentes, subia e descia montanhas para batizar ou catequizar e freqüentemente jejuava. Sua prontidão para levantar no caso de um imprevisto fazia sentido. Ele viu Piratininga ser atacada pelos tupis numa encarniçada luta que durou dois dias.

Enquanto as mulheres e crianças se recolheram à igreja em vigília permanente, os jesuítas cuidavam dos mortos e feridos com ervas medicinais indígenas plantadas ao lado das cercas do colégio. Mas, com a ajuda dos índios convertidos, a vila resistiu e os tupis acabaram fugindo.

Fora esses sustos eventuais, a aldeia de Piratininga florescia. José se aplicava em escrever divertidas peças de teatro que encenava para os indígenas e a formular a gramática “da língua mais usada na costa do Brasil”, o tupi-guarani, que seria publicada em Coimbra, em 1595. Era a primeira gramática desde os gregos antigos, escrita por um ocidental, que não se baseava nas regras do latim.

Naquele momento, não passava pela cabeça dos colonizadores portugueses serem eles os intrusos e invasores das terras indígenas. Os jesuítas estavam ali para salvar aqueles homens da barbárie e reintegrá-los ao reino de Deus. Foi essa missão que o levou, junto com Manoel da Nóbrega, à experiência talvez mais dramática e definitiva de sua vida. Aos 30 anos, Anchieta rumou para Iperoig, hoje Ubatuba, em São Paulo, para negociar com os bravios tamoios, aliados dos franceses.

Os índios, defendendo seu território, atacavam as aldeias portuguesas do litoral e os prisioneiros eram simplesmente devorados.

Ele passou dois meses numa choça de palha tentando a paz e uma troca de reféns. Quando as negociações chegavam a um impasse, as ameaças de morte começavam. Finalmente Manoel da Nóbrega, doente e coberto de chagas, seguiu para o Rio para enviar os prisioneiros. José se candidatou a ficar como refém.

O cativeiro foi uma dura prova para Anchieta. Ali, além de fome, frio e humilhações, pode ter passado pelo crivo da maior tentação: a da carne. Aos prisioneiros que iam ser devorados, os tamoios tinham por costume oferecer a mais bela jovem da tribo. O jesuíta havia feito o voto de castidade, ainda em Coimbra, aos 17 anos. E seus biógrafos dizem que a ele foi fiel a vida inteira.

Talvez para fugir das tentações, José escreveu na areia de Iperoig as principais estrofes dos 5786 versos de um poema em latim contando a história de Maria. E ganhou, aos poucos, a admiração dos tamoios por sua coragem e estranhos costumes. Quando eles ameaçavam devorá-lo, José retrucava com suavidade:

“Ainda não é chegado o momento”. E dizia a si mesmo, como contou depois, que primeiro deveria terminar o poema à Virgem. Outros relatos asseguram que sua facilidade em levitar e a proximidade com os pássaros, que o rodeavam constantemente, teria assustado os tamoios, que o libertaram finalmente, depois de assegurada a paz.

Anchieta, humilde, minimizava seus feitos. Quando lhe fizeram notar que os pássaros o cercavam, ele respondeu que eles também costumavam voar sobre dejetos. Talvez tenha sido essa subserviente simplicidade que lhe rendeu tamanho respeito entre os índios. Quando morreu, em 9 de julho de 1597, aos 63 anos, na aldeia de Reritiba (hoje Anchieta), no Espírito Santo, por ele fundada, os índios disputaram a honra de carregar seu corpo até a Igreja de São Tiago. E retrucava, com a mesma suavidade do bom irmão, aos que queriam substituí-los na tarefa: “Não pesa, não pesa”.

Enviado por e-mail por Alex A. Borges

Quem quiser saber um pouco sobre a Santa Morte do Beato José de Anchieta, recomendo que leia minha postagem:
http://almascastelos.blogspot.com/2011/03/morte-do-bem-aventurado-jose-de.html

Os passos de um aventureiro (parte 2)


Continuando o assunto da postagem anterior:

A saga do Padre Anchieta, o missionário religioso que há quatro séculos enfrentou tempestades, onça e até canibais para catequizar os índios brasileiros (Por Liane Camargo de Almeida Alves)

“Revista Terra, Agosto de 1997, nº 8, edição 64, páginas 31 a 35.”

Violentas tempestades sacudiram sua embarcação na altura de Abrolhos e o barco, com as velas rotas e os mastros partidos, encalhou perto do litoral do Espírito Santo. A nau que o acompanhava perdeu-se nas vagas e foi com seus destroços que a tripulação pôde consertar os estragos e retomar a viagem. Mas, antes que isso ocorresse, o pânico tomou conta dos passageiros – na praia poderiam estar esperando os índios tamoios, conhecidos antropófagos. Destemido, Anchieta desceu a terra junto com os marinheiros, à procura de mantimentos. Foi seu primeiro contato com os índios. Não se sabe muito bem o que aconteceu, já que os biógrafos não entram em detalhes, mas é certo que ninguém no barco foi molestado.

Depois do sobressalto, ao desembarcar, o pesadelo apenas começava. Para chegar do mar à aldeia de Piratininga, cerca de mil metros acima, em um planalto, José tinha de percorrer o que foi chamado por seus biógrafos como “o pior caminho do mundo”: uma picada em meio à Mata Atlântica, que Anchieta fez muitas vezes a pé, pois cavalgar danificava sua coluna. Era verão, época de chuvas, calor e, principalmente, mosquitos.

Sua visão das terras de São Vicente e Piratininga foi relatada em carta aos seus superiores. Dizia ele das onças: “Essas (malhadas ou pintadas) encontram-se em qualquer parte (...) São boas para comer, o que fizemos algumas vezes”. Dos jacarés: “Também há lagartos nos rios, que se chamam jacarés, de extraordinário tamanho, de modo a poder engolir um homem”. Ou sobre as jararacas: “São muito comuns nos campos, bosques e até nas próprias casas, nas quais as encontramos tantas vezes”. José fala ainda dos mosquitos que, “sugando o sangue, dão terríveis ferroadas”, das poderosas tempestades tropicais e das inundações de dezembro.

Apesar dos transtornos, a luxuriante beleza da Serra do Mar deve tê-lo impressionado, pois escreveu, anos depois, um tratado sobre as espécies animais e vegetais que poderiam ser encontradas no Brasil, numa iniciativa pouco comum entre os jesuítas. Mas seu tema principal forma mesmo os índios:

“Toda essa costa marítima, de Pernambuco até além de São Vicente, é habitada por índios que, sem exceção, comem carne humana; nisso sentem tanto prazer e doçura que freqüentemente percorrem mais de 300 milhas quando vão à guerra. E, se cativarem quatro ou cinco dos inimigos, regressam com grandes vozearias, festas e copiosíssimos vinhos que fabricam com raízes, e os comem de maneira que não perdem nem sequer a menor unha”.

Um mês depois de sua chegada, em 25 de janeiro de 1554, foi inaugurado o colégio jesuíta da Vila de Piratininga, data hoje comemorada como fundação de São Paulo. Escreveu Anchieta: “Celebramos em paupérrima e estreitíssima casinha a primeira missa, no dia da conversão do apóstolo São Paulo, e por isso dedicamos a ele nossa casa”. Ali moravam treze jesuítas que tinham a seu cargo duas aldeias de índios com quase mil pessoas. O local tinha apenas 14 passos de comprimento e 10 de largura, incluindo escola, despensa, cozinha, refeitório e dormitório. Em resumo, era minúsculo. Época de austeridade tanto no espaço quanto nas vestes, as batinas de Anchieta eram feitas com as velas imprestáveis dos navios.

Humilde, ele vivia num espaço minúsculo, dormia só 4 a 5 horas por dia e vestia batinas feitas com as velas imprestáveis dos navios.

“Se grandes são as manchas de nossa alma aí está a enchente do teu amor para inundar-nos.. Eis que se abre a entrada do asilo virginal: descansa, ó minha alma piedosa e humildemente! Aí se correrá o véu cuja glória imensa gera em ti fulgor inigualável..” José Anchieta

continua na próxima postagem...

Enviado por e-mail por Alex A. Borges

Os passos de um aventureiro (parte 1)


Dia 9 de junho se comemora o Beato José de Anchieta. Conhecer sua história é algo que alegra o coração. Por isso farei tres postagens sobre esse homem de Deus:

A saga do Padre Anchieta, o missionário religioso que há quatro séculos enfrentou tempestades, onça e até canibais para catequizar os índios brasileiros. (Por Liane Camargo de Almeida Alves)

"Revista Terra, Agosto de 1997, nº 8, edição 64, páginas 31 a 35."

Um litoral de costumeiros naufrágios e guerras corpo a corpo. De cobras peçonhentas que se esgueiravam para dentro das botas e de onças que, à noite, rondavam, famintas, as choças de palha das aldeias. De índios comedores de carne humana e homens de poucas leis que sangravam pelas bandeiras inimigas de Portugal e da França. Foi essa terra de aventuras e riscos que um adolescente magrinho de olhos azuis criado sob mimos e cuidados em Tenerife, no domínio espanhol das Ilhas Canárias, pisou pela primeira vez há mais de 400 anos. Sua missão: “caçar almas e servir a Deus”.

Com a serenidade com que escrevia poemas, Anchieta tratava os índios. Quando ameaçavam devorá-lo, dizia apenas que não era a hora.

“Oh Virgem, glória primeira da cãs de Sião! O coração me impele a visitar teu santuário, a lançar um murmúrio junto aos santos umbrais, a ver se abres a este pobrezinho as tuas portas, a ver se um cantinho, embora minúsculo de tua habitação, me dá guarida sequer por um instante.” José Anchieta

A aventura fervilhava no sangue dos Anchieta. A família daquele jovem franzino que chegava ao Novo Mundo era de guerreiros aguerridos. Um de seus irmãos defendeu o estandarte dos Tércios de Flandres, que lutavam até a morte pela unidade religiosa nos campos da Espanha. Outro, missionário, adentrou pelas terras ao norte do Rio Grande, hoje território norte-americano, seu primo o antecedeu nas missões jesuíticas ao Brasil.

José, por tradição, era destinado a ser soldado. Mas seu pai, vendo o menino acanhado e versejando poesias em latim já aos nove anos de idade, reconheceu que ele não manifestava a mínima aptidão para a carreira militar. Decidiu matriculá-lo no Colégio das Artes da Companhia de Jesus em Portugal. A disciplina e a noção do dever dos jesuítas – Santo Inácio de Loyola, o fundador da Companhia, era, ele sim, um militar – deveria bastar à formação do garoto. Não sendo soldado de armas, José de Anchieta seria soldado da fé.

O garoto não frustraria os anseios de seu pai. Pregando em terras distantes, onde os relatos de seus milagres se multiplicavam (*), ele ainda pode vir a ser canonizado. Seria a culminação de um percurso religioso que começou aos 14 anos, quando foi para o colégio em Coimbra.

Tinha tanta facilidade em compor versos em latim quanto problemas por sua fraca saúde, que necessitava sempre de cuidados. Alguns biógrafos dizem que sofria de dores na coluna vertebral e que, ao tornar-se noviço, já andava arqueado. Outros garantem que uma escada da biblioteca do colégio caiu-lhe nas costas e, com o correr dos anos, as conseqüências do acidente o deixaram quase corcunda. Foi para aliviar tantos padecimentos, que seus superiores conjecturaram sob a viabilidade de mandá-lo para um clima ameno – o das Índias brasílicas, como era conhecido o Brasil.

Servir a Deus no Novo Mundo era o sonho dos jovens religiosos da Companhia de Jesus, e José aceitou a ordem com a determinação dos que cumprem uma missão divina. Tinha 19 anos de idade quando chegou a Salvador, na Bahia, depois de dois meses e meio de viagem, em 13 de julho de 1553.

Ficou ali por pouquíssimo tempo. Manoel da Nóbrega, vice-provincial da capitania de São Vicente, onde se encontrava a pequena aldeia de Piratininga, precisava de sua ajuda. Ele sabia da sua competência em ler e escrever, e os jesuítas necessitavam urgentemente de tradutores e intérpretes para falar o tupi, língua dos índios do litoral brasileiro. Mais dois meses de viagem o aguardavam para chegar da Bahia ao planalto paulista. Um percurso que, mais do que a travessia do Atlântico em um galeão, fundou uma nova etapa na vida de José: a da aventura.

_____________________________
(*) Os milagres do irmão José
Anchieta foi considerado santo ainda em vida. São numerosos os testemunhos de sua levitação durante êxtases místicos. Afirmam também que multiplicou alimentos, que comandava os peixes no mar – os índios também o chamavam de “o senhor da pesca” – ou mesmo que podia conter tempestades. Como Francisco de Assis, falava mansamente aos animais selvagens e houve quem disse que ele conseguiu ficar até meia hora no fundo de um rio dentro de uma canoa naufragada. Por essa fama, já em 1617, o jesuíta Pero Rodrigues foi nomeado para escrever sua biografia. Como muitos dos relatos eram apenas de testemunhas oculares e Roma precisaria de provas, de “um milagre de primeira ordem”, para incluir Anchieta entre os seus 2 500 santos, o processo se arrastou durante séculos. Só em 1980 José foi honrado com a beatificação. Hoje, o padre Roque Schneider, vice-postulador do processo de canonização de Anchieta, acredita que “Roma vê com bons olhos a inclusão dele entre os santos da Igreja”.

Continua na próxima postagem...

Enviado por e-mail por Alex A. Borges

quinta-feira, 9 de junho de 2011

A menina e o velho marujo


Certa menina, que residia no interior de um país, desejava muito conhecer o mar. Levada por sua família ao litoral, dirigiu-se a uma praia e, depois de admirar, deslumbrada, por muito tempo, as vagas, que se desmanchavam tranqüilas em espumas sobre a areia, voltou ao hotel e, entrando na sala de visitas, disse, alegre, aos que ali estavam:

- Já conheço o mar!

Entre os circunstantes havia um velho capitão de navio que atravessara diversos oceanos, lutando com violentas tempestades, e vira de perto os horrores das procelas marítimas. Logo que a menina afirmou satisfeitíssima, que conhecia o mar, o velho comandante, acariciando-a, disse:

- Eu também, menina, eu também o conheço.

Que diferença havia no sentido real dessas duas afirmativas?

Muitos são aqueles que se acham iludidos, quando julgam conhecer os seus deveres e responsabilidades.

Procuremos, portanto, ouvir, com a máxima atenção, os ensinamentos de nossos mestres de nossos guias.

Ó Deus, perdoa a pobreza, a pequenez, a puerilidade de nossos corações. Não escutes as nossas palavras, mas sim os nossos gemidos inexprimíveis; não atendas às nossas petições, mas o clamor das nossas necessidades. Quantas vezes pedimos aquilo que possuímos e deixamos inaproveitado! Quantas vezes sonhamos possuir aquilo que nunca poderá ser nosso!

(Lendas do Céu e da Terra)

terça-feira, 7 de junho de 2011

O Amém das pedras


Apesar de cego pela idade, continuava o venerável Beda a pregar a alviçareira boa nova. Conduzido pelo guia, peregrinava o piedoso velho de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, tendo na boca a palavra de Deus e no coração o fogo juvenil.

Um dia o moço que o guiava levou-o a um vale ouriçado de brutas pedras e com mais leveza que maldade lhe disse:

- Venerável Pai muita gente está aqui reunida à espera da vossa prédica.

Imediatamente levantou-se o ancião, escolheu um texto sagrado, explicou-o e fez dele aplicação, e exortou, e advertiu, e exprobrou, e consolou com tanta mansuetude e unção que as lágrimas lhe correram suave e docemente pelas barbas encanecidas.

E, ao concluir, proferiu ele a oração e exclamou:

- Tu és o Reino e o Poder, Tu és a Força e a Glória por toda a eternidade!

Deu-se, nesse momento, um fato estranho: ao redor, no vale pedregoso, bradaram milhares e milhares de vozes que ecoaram pelas montanhas:

- Amém, venerável Pai! Amém! Amém!

O rapaz tomou-se de assombro, caiu de joelhos, profundamente arrependido, e confessou ao santo o pecado que cometera.

- Mas, meu filho – exclamou comovidamente o velho – por acaso não leste que, se os homens emudecerem, as pedras bradarão? Não tentes, jamais, gracejar com o verbo de Deus, meu filho! A palavra divina é viva, forte e afiada como uma espada de dois gumes; e ainda que o coração humano, a despeito dela, se petrificasse, palpitaria em cada pedra um coração de homem.

(Cândido Jucá - O Bom Caminho, páginas 199/200)

A água milagrosa


Referem os autores o caso gracioso de uma pobre mulher que se foi queixar, mui magoada, a um velho sacerdote, dos desabrimentos do marido.

- Logo que entra em casa – narrou a infeliz – é uma tormenta desfeita de impropérios e de injúrias; renovam-se todos os dias estas cenas violentas, com grandes clamores, que atordoam e escandalizam a vizinhança. Ando consumida, já me é insuportável a vida; dizei-me, padre, que devo fazer em tão angustiosa situação?

O padre, depois de ouvi-la com toda a paciência, foi buscar um frasco de águas e lho entregou dizendo:

- Esta água, é colhida de uma fonte junto à igreja de São Geraldo, é milagrosa. Todas as vezes que teu marido aparecer colérico, e começar a maltratar-te com palavras ásperas, toma um pouco desta água na boca, e aí a conservarás até que ele se tenha calado. Verás que a água-de-São-Geraldo possui, realmente, uma virtude maravilhosa.

Fez a esposa exatamente como lhe ensinara o padre, e observou que quando tomava a água na boca, a ira do marido como que se amainava mais depressa. Suas cóleras foram-se tornando cada vez menos duradouras e menos freqüentes, até que enfim cessaram de todo, e reinou a paz entre o pobre casal.

Voltou a mulher ao padre, toda jubilosa, a agradecer o portentoso efeito da água milagrosa de São Geraldo.

- Minha filha – disse-lhe, então, o sacerdote – a água que te dei só teve uma virtude, e não pequena. Foi a de fazer-te calar; enquanto a tinhas na boca, não podias proferir palavra. A esse silencio, e só a ele, deves o benefício da paz e concórdia que desfrutas agora com teu marido. Se, quando um se agasta, o outro se calasse, nunca haveria discussões.

Muitos casais seriam felizes, e viveriam em perfeita harmonia, se o cônjuge sensato e prudente experimentasse sempre, nos momentos precisos, o efeito milagroso da água-de-São-Geraldo.

(Dom Macedo Costa)

quinta-feira, 2 de junho de 2011

O Clérigo que vendeu sua alma


Ao visitar as grandes Catedrais Medievais, ficamos maravilhados com os inúmeros vitrais coloridos. Há também nas paredes internas e externas dessas Catedrais pequenas esculturas onde se vê imagens relatando histórias antigas que se perpetuaram pelos séculos. Isso era muito útil para todos, mas especialmente para os pobres e para os iletrados que, através das figuras, aprendiam maravilhosas histórias. A catedral foi por isso chamada "Bíblia dos pobres".

São verdadeiras obras-primas, tanto da escultura românica quanto da gótica.Nesta "Bíblia de pedra e de cristal", os artistas de outrora esculpiram inúmeras parábolas, que ensinam de modo vivo as virtudes que o fiel católico deve praticar.

Uma dessas histórias retratadas em pedra é a de Teófilo. Sua escultura se encontra no lado externo da Catedral de Notre Dame em Paris.O fato ocorreu na Sicília, e deu origem à famosa legenda que inspirou a auto sacramental "O milagre de Teófilo", dos mais célebres da literatura medieval.

Foi escrita pelo clérigo Eutiquiano de Constantinopla, como testemunha ocular que foi do fato. Segundo o padre Crasset, confirmam-no S. Pedro Damião, S. Bernardo, S. Boaventura, S. Antônio e outros.

Qual era o caso de Teófilo? Vigário da Igreja de Adanas, na Sicília, ele dirigira durante muito tempo, com dedicação e acerto, os bens eclesiásticos, facilitando a seu bispo a direção das almas.

Porém, veio o dia em que o prelado entregou sua alma ao Criador, para grande desconsolo e tristeza dos fiéis.

Quem ocuparia a sede vacante? Não havia dúvida: Teófilo — dizia-se por toda parte. O povo o estimava e o queria para bispo, dignidade que ele por humildade recusou, respondendo que sua vocação era continuar exercendo as funções de vigário. Por fim, outro bispo ocupou a sede vacante.O novo prelado não confiava em Teófilo, e algum tempo depois removeu-o de seu cargo. A desolação invadiu então a alma do eclesiástico. Enquanto ele vagava pela cidade, o demônio lhe sussurrava:

— Perder o cargo! A carreira! Como foram fazer isso a ti, Teófilo? Isso não pode ficar assim!

Foi nesse estado que o infeliz sacerdote bateu à porta do feiticeiro. Este, porém, negava-lhe uma solução fácil:

— Há só uma saída: invocar a ajuda dos infernos.

Teófilo vacilou por um instante. Porém o ressentimento lhe corroia o coração, e acabou aceitando a proposta. Invocado pelo feiticeiro, o demônio apareceu imediatamente em toda sua hediondez.

Com gritos, blasfêmias e palavrões, foi ditando a Teófilo os termos dos atos, que deviam ser escritos em pergaminho com o próprio sangue do ex-vigário e selados com seu anel.

Devia renunciar à Fé, à Igreja, à Santíssima Virgem e a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Ajoelhando-se, o ex-vigário prestou vassalagem ao demônio, em sua forma monstruosa (na cerimônia medieval de vassalagem, o servo juntava suas mãos e o senhor feudal as cobria com as mãos, significando assim que concederia proteção àquele que se submetia à sua autoridade).

No dia seguinte o bispo reconheceu a falsidade das acusações contra Teófilo e pediu-lhe perdão, restituindo-lhe o cargo que ocupara. A fortuna e o prazer lhe sorriam, mas um profundo mal-estar o atormentava no interior.

Chorava sem cessar, tendo a consciência dilacerada de remorso pelo enorme pecado que havia cometido.

Era como se uma mão o prendesse pelo coração. Ademais, só ao pensar que sua felicidade iria terminar algum dia, tornava-se sumamente infeliz.Sobretudo, enchia-o de terror o saber de quem era servo!

Finalmente, não podendo suportar mais tal situação, entrou um dia na igreja, e lançando-se aos pés de uma imagem da Santíssima Virgem, chorou amargamente e lhe disse:

— Ó Mãe de Deus, não quero desesperar-me. Ainda Vós me restais, Vós que sois tão compassiva e poderosa para me ajudar.

Fez a mesma coisa durante quarenta dias, renovando sempre suas súplicas e pedindo perdão.
Uma noite apareceu-lhe a Mãe de Misericórdia e disse-lhe:

— Que fizeste, Teófilo? Renunciaste à minha amizade e à de Meu Filho e te entregaste àquele que é teu e meu inimigo!

Teófilo, sem deixar de chorar, implorou a misericórdia da Mãe de Deus. Recordando o exemplo de outros pecadores como o Profeta-Rei David, Santa Maria Madalena e S. Pedro, terminou por dizer:

— Senhora, haveis de me perdoar e de me obter o perdão de Vosso Filho.

Ela respondeu-lhe que o perdoaria tê-la negado, mas não poderia perdoar a negação de Seu Filho:
— Consola-te, que vou rogar a Deus por ti.

Após ouvir estas palavras, reanimado, redobrou Teófilo as lágrimas, as preces e as penitências, conservando-se sempre aos pés da imagem de Maria. Reapareceu-lhe a Mãe de Deus, e amavelmente lhe disse:

— Teófilo, enche-te de consolação. Apresentei a Deus tuas lágrimas e orações. De hoje em diante guardo-lhe a gratidão e fidelidade.

O infeliz replicou:

— Senhora minha, ainda não estou plenamente consolado. Ainda conserva o demônio o ímpio documento em que renunciei a Vós e a vosso Filho. Podeis fazer que me restitua?

Compadecida, Ela mesma ofereceu-se para ir buscar o pergaminho no inferno. Durante três dias Teófilo aguardou prostrado em terra, ao cabo dos quais reapareceu a Virgem trazendo o pacto maldito, que entregou a Teófilo como símbolo do seu perdão.

No dia seguinte foi Teófilo à Igreja, e ajoelhando-se aos pés do bispo, que naquele momento oficiava, contou-lhe por entre soluços tudo quanto lhe havia acontecido.

Entregou-lhe o ímpio documento, que o bispo fez queimar imediatamente diante dos fiéis presentes, enquanto choravam todos de alegria, exaltando a bondade de Deus e a misericórdia de Maria para aquele pobre pecador. Teófilo voltou à igreja de Nossa Senhora, e ao fim de três dias morreu contente, cheio de gratidão para com Jesus e sua Mãe Santíssima.

Na escultura que representa o fato, bem se pode ver esse auge de bondade de Maria. Enquanto o vigário arrependido ora fervorosamente, a Santíssima Virgem obriga, com a espada na mão, o demônio a devolver-lhe o pergaminho. Três fisionomias marcam a cena: confiança e calma em Teófilo; proteção maternal e força de Nossa Senhora; ódio cínico e desespero profundo no demônio.

Fonte: Revista Catolicismo, nº 320, setembro de 1977

O Rei que usava o Rosário na cintura


A Santíssima Virgem não favorece somente quem reza o Rosário, mas recompensa também gloriosamente a quem com seu exemplo atrai aos demais a esta devoção.

Alfonso IX (1188-1230), rei de León y de Galicia, desejando que todos seus criados honrassem a Santíssima Virgem com o Rosário, resolveu, para animá-los com seu exemplo, levar ostensivamente um grande rosário, mesmo sem rezá-lo.

Bastou isto para obrigar toda a corte a rezá-lo devotamente. O rei caiu enfermo com gravidade. Já o acreditavam morto, quando, arrebatado no espírito diante do tribunal de Jesus Cristo, viu os demônios que lhe acusavam de todos os crimes que havia cometido.

Quando o divino Juiz já o ia condenar às penas eternas, interveio em seu favor a Santíssima Virgem. Trouxeram, então, uma balança: em um pratinho da mesma colocaram os pecados do rei.

A Santíssima Virgem colocou no outro o rosário que Alfonso havia levado para honrá-la e os que, graças a seu exemplo, haviam recitado outras pessoas. Isto pesou mais que os pecados do rei.

A Virgem lhe disse logo, olhando-o benignamente:

«Para recompensar-te pelo pequeno serviço que me fizeste ao levar meu Rosário, te alcanço de meu Filho o prolongamento de tua vida por alguns anos. Emprega-os bem e faz penitência!»

Voltando a si o rei exclamou:

«Oh bendito Rosário da Santíssima Virgem, que me livrou da condenação eterna!»

E depois de recobrar a saúde, foi sempre devoto do Rosário e o recitou todos os dias. Que os devotos da Santíssima Virgem tratem de ganhar o maior número de fiéis para a Confraria do Santo Rosário, a exemplo destes santos e deste rei. Assim conseguirão na terra a proteção de Maria e logo a vida eterna: «Os que me derem a conhecer, alcançarão a vida eterna» (Eclo 24,31).

O Segredo Admirável do Santíssimo Rosário de São Luis Maria Grignion de Montfort