Mas porque Almas Castelos? Eu conheci algumas. São pessoas cujas almas se parecem com um castelo. São fortes e combativas, contendo no seu interior inúmeras salas, cada qual com sua particularidade e sua maravilha. Conversar, ouvir uma história... é como passear pelas salas de sua alma, de seu castelo. Cada sala uma história, cada conversa uma sala. São pessoas de fé flamejante que, por sua palavra, levam ao próximo: fé, esperança e caridade. São verdadeiras fortalezas como os muros de um Castelo contra a crise moral e as tendências desordenadas do mundo moderno. Quando encontramos essas pessoas, percebemos que conhecer sua alma, seu interior, é o mesmo que visitar um castelo com suas inúmeras salas. São pessoas que voam para a região mais alta do pensamento e se elevam como uma águia, admirando os horizontes e o sol... Vivem na grandeza das montanhas rochosas onde os ventos são para os heróis... Eu conheci algumas dessas águias do pensamento. Foram meus professores e mestres, meus avós e sobretudo meus Pais que enriqueceram minha juventude e me deram a devida formação Católica Apostolica Romana através das mais belas histórias.

A arte de contar histórias está sumindo, infelizmente.

O contador de histórias sempre ocupou um lugar muito importante em outras épocas.

As famílias não têm mais a união de outrora, as conversas entre amigos se tornaram banais. Contar histórias: Une as famílias, anima uma conversa, torna a aula agradável, reata as conversas entre pais e filhos, dá sabedoria aos adultos, torna um jantar interessante, aguça a inteligência, ilustra conferências... Pense nisso.

Há sempre uma história para qualquer ocasião.

“Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc. 16:15)

Nosso Senhor Jesus Cristo ensinava por parábolas. Peço a Nossa Senhora que recompense ao cêntuplo, todas as pessoas que visitarem este Blog e de alguma forma me ajudarem a divulga-lo. Convido você a ser um seguidor. Autorizo a copiar todas as matérias publicadas neste blog, mas peço a gentileza de mencionarem a fonte de onde originalmente foi extraída. Além de contos, estórias, histórias e poesias, o blog poderá trazer notícias e outras matérias para debates.

Agradeço todos os Sêlos, Prêmios e Reconhecimentos que o Blog Almas Castelos recebeu. Todos eles dou para Nossa Senhora, sem a qual o Almas Castelos não existiria. Por uma questão de estética os mesmos foram colocados na barra lateral direita do Blog. Obrigado. Que a Santa Mãe de Deus abençoe a todos.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

São Francisco, o Seráfico e Cântico das Criaturas


São Francisco de Assis mereceu o título de Seráfico, por que sua santidade foi tão grande que mereceu estar no Céu, ocupando o trono de um Anjo da mais alta estirpe celeste: um Serafim. De fato tão grande sua santidade e ensinamentos que somente a leitura dos fatinhos de São Francisco nos I FIORETTI eleva qualquer alma.

São Francisco recebeu os estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo e pela sua humildade e santidade nos ensinou o desapego dos bens terrenos e a glória do Céu. Ler o episódio do I FIORETTI sobre sua morte é edificante:


Atendendo a alguns amigos e amigas que me pediram para postar o CANTICO DAS CRIATURAS no original, faço-o agora com muita alegria.

Texto original em Italiano (dialeto úmbrio)

Il Cantico Delle Creature di San Francesco di Assisi

Altissimu, onnipotente bon Signore,
Tue so’ le laude, la gloria e l’honore et onne benedictione.

Ad Te solo, Altissimo, se konfano,
et nullu homo ène dignu te mentovare.

Laudato sie, mi’ Signore cum tucte le Tue creature,
spetialmente messor lo frate Sole,
lo qual è iorno, et allumini noi per lui.
Et ellu è bellu e radiante cum grande splendore:
de Te, Altissimo, porta significatione.

Laudato si’, mi Signore, per sora Luna e le stelle:
in celu l’ài formate clarite et pretiose et belle.

Laudato si’, mi’ Signore, per frate Vento
et per aere et nubilo et sereno et onne tempo,
per lo quale, a le Tue creature dài sustentamento.

Laudato si’, mi Signore, per sor’Acqua.
la quale è multo utile et humile et pretiosa et casta.

Laudato si’, mi Signore, per frate Focu,
per lo quale ennallumini la nocte:
ed ello è bello et iocundo et robustoso et forte.

Laudato si’, mi Signore, per sora nostra matre Terra,
la quale ne sustenta et governa,
et produce diversi fructi con coloriti fior et herba.

Laudato si’, mi Signore, per quelli che perdonano per lo Tuo amore
et sostengono infrmitate et tribulatione.

Beati quelli ke ‘l sosterranno in pace,
ka da Te, Altissimo, sirano incoronati.

Laudato s’ mi Signore, per sora nostra Morte corporale,
da la quale nullu homo vivente pò skappare:
guai a quelli ke morrano ne le peccata mortali;
beati quelli ke trovarà ne le Tue sanctissime voluntati,
ka la morte secunda no ‘l farrà male.

Laudate et benedicete mi Signore et rengratiate
e serviateli cum grande humilitate.

Tradução:

Altíssimo, omnipotente, bom Senhor,
a ti o louvor, a glória, a honra e toda a bênção.

A ti só, Altíssimo, se hão-de prestar
e nenhum homem é digno de te nomear.

Louvado sejas, ó meu Senhor, com todas as tuas criaturas,
especialmente o meu senhor irmão Sol,
o qual faz o dia e por ele nos alumias.
E ele é belo e radiante, com grande esplendor:
de ti, Altíssimo, nos dá ele a imagem.

Louvado sejas, ó meu Senhor, pela irmã Lua e as Estrelas:
no céu as acendeste, claras, e preciosas e belas.

Louvado sejas, ó meu Senhor, pelo irmão Vento
e pelo Ar, e Nuvens, e Sereno, e todo o tempo,
por quem dás às tuas criaturas o sustento.

Louvado sejas, ó meu Senhor, pela irmã Água,
que é tão útil e humilde, e preciosa e casta.

Louvado sejas, ó meu Senhor, pelo irmão Fogo,
pelo qual alumias a noite:
e ele é belo, e jucundo, e robusto e forte.

Louvado sejas, ó meu Senhor, pela nossa irmã a mãe Terra,
que nos sustenta e governa, e produz variados frutos,
com flores coloridas, e verduras.

Louvado sejas, ó meu Senhor, por aqueles que perdoam por teu amor
e suportam enfermidades e tribulações.

Bem-aventurados aqueles que as suportam em paz,
pois por ti, Altíssimo, serão coroados.

Louvado sejas, ó meu Senhor, por nossa irmã a Morte corporal,
à qual nenhum homem vivente pode escapar:
Ai daqueles que morrem em pecado mortal!
Bem-aventurados aqueles que cumpriram a tua santíssima vontade,
porque a segunda morte não lhes fará mal.

Louvai e bendizei a meu Senhor, e dai-lhe graças
e servi-o com grande humildade...

terça-feira, 22 de novembro de 2011

A morte do justo


Um monge, muito moço ainda, que vivia com outros religiosos no deserto da Tebaida, caiu gravemente enfermo. Apesar dos grandes sofrimentos que o torturavam cruelmente, a sua fisionomia era serena e seu olhar tranqüilo.

Acreditavam os monges que o demônio apareceu muitas vezes ao justo, na hora da morte, sob a forma de anjo resplandecente de luz, para tenta-lo pelo pecado de orgulho. Temiam, pois, pela sorte do jovem anacoreta. Estaria ele, nos últimos momentos de vida, sendo iludido pelo gênio do mal?

O superior disse, pois, ao moribundo:

- Permití, meu filho, que vos faça uma pergunta?

- Sim, meu pai. Que desejais ouvir de mim?

- Dizei-nos, meu filho, qual é a causa dessa tranqüilidade perfeita, dessa felicidade inefável de que parece vos achais possuído?

Respondeu o agonizante:

- Quando ingressei, meu pai, na vida religiosa, li no Evangelho estas palavras sagradas: “Não julgueis para que não sejais julgado”. Esta divina sentença gravou-se, para sempre, no meu coração e sobre ela meditei profundamente.. Procurei seguir o divino ensinamento de Jesus. Não julguei e agora espero a misericórdia de Deus.

(Lendas do Céu e da Terra – Malba Tahan)

NOTA DO BLOGUE: Tenho muitos amigos religiosos. Por várias ocasiões presenciei comentários sobre algum outro religioso, como: "Aquele está mal". Uns riam, outros zombavam dizendo coisas feias, outros porém ficavam preocupados e procuravam fazer apostolado com o que não estava muito bem. Meus amigos e amigas, religiosos ou leigos, quem não tem problemas no mundo de hoje? Ao invés de criticar, zombar, ou fazer piorar a situação de quem está com problemas, procurem fazer apostolado. Tenham caridade cristã, que, segundo o apóstolo São Paulo, é a maior de todas as virtudes: "Por ora, subsistem a fé, a esperança e a caridade - as três. Porém, a maior delas é a caridade" (I Corintios, cap. 13, vers 13).

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Por que Jesus dobrou o lenço?


Por que Jesus dobrou o lenço?

Por que Jesus dobrou o lenço que cobria sua cabeça no sepulcro depois de sua ressurreição?

Em João 20:7 - nos conta que aquele lenço que foi colocado sobre a face de Jesus, não foi apenas deixado de lado como os lençóis no túmulo. A Bíblia reserva um versículo inteiro para nos contar que o lenço fora dobrado cuidadosamente e colocado na cabeceira do túmulo de pedra.

Bem cedo pela manhã de domingo, Maria Madalena veio à tumba e descobriu que a pedra havia sido removida da entrada. Ela correu e encontrou Simão Pedro e outro discípulo, aquele que Jesus tanto amara {João Evangelista} e disse ela: "Eles tiraram o corpo do Senhor e eu não sei para onde eles o levaram."

Pedro e o outro discípulo correram ao túmulo para ver. O outro discípulo passou à frente de Pedro e lá primeiro chegou. Ele parou e observou os lençóis, mas ele não entrou. Então Simão Pedro chegou e entrou. Ele também notou os lençóis ali deixados, enquanto o lenço que cobrira a face de Jesus estava dobrado e colocado em um lado.

Isto é importante? Definitivamente.

Isto é significante? Sim.

Para poder entender a significância do lenço dobrado, você tem que entender um pouco a respeito da tradição Hebraica daquela época. O lenço dobrado tem tudo a ver com o Amo e o Servo; e todo menino Judeu conhecia a tradição. Quando o Servo colocava a mesa de jantar para o seu Amo, ele buscava ter certeza em fazê-lo exatamente da maneira que seu Amo queria.

A mesa era colocada perfeitamente e o Servo esperaria fora da visão do Amo até que o mesmo terminasse a refeição. O Servo não se atreveria nunca tocar a mesa antes que o Amo tivesse terminado a refeição. Se o Amo tivesse terminado a refeição, ele se levantaria, limparia seus dedos, sua boca e limparia sua barba e embolaria seu lenço e o jogaria sobre a mesa. Naquele tempo o lenço embolado queria dizer: "Eu terminei".

Se o Amo se levantasse e deixasse o lenço dobrado ao lado do prato, o Servo não ousaria em tocar a mesa porque o lenço dobrado queria dizer:

"Eu voltarei!"

(recebido por e-mail, desconheço o autor)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A árvore silvestre


É muito dificil, neste mundo de hoje, dizer: tenham vida em abundância. É possivel que alguns entendam que ter vida em abundancia significa ter muita saúde para se divertir e gozar a vida num sonho interminável de prazeres mundanos, sejam esses prazeres legítimos ou não.

Mas a vida em abundancia que Nosso Senhor Jesus Cristo nos dá é uma vida sobrenatural, cheia de graças onde frutificam as virtudes e nos leva ao céu. Fiquemos atentos, pois são preciosas as coisas do Céu.

Nossa narração de hoje:

Um jardineiro tem em seu jardim uma árvore silvestre que não dá senão frutos amargos. Que faz ele para obter frutos melhores? Toma um rebento duma árvore cultivada e enxerta-o na inculta e eis que esta, no ano seguinte, produz frutos excelentes. E por que? Porque a árvore silvestre, em certo modo, mudou de natureza e de vida.

Nós somos, no dizer do Apóstolo, a oliveira silvestre, nascida de um tronco vicioso, que não pode dar senão frutos amargos. Não se agradou deles Deus, o Jardineiro das almas, e, desejando obter frutos melhores, infundiu-nos uma vida nova e sobrenatural, e agora podemos dar frutos bons, isto é, obras meritórias para a vida eterna.

Essa vida nos foi outorgada por Ele e tal verdade ressalta de suas próprias palavras:

- Eu vim para que tenham a vida e a tenham em abundância.

(autor: D. - Lendas do Céu e da Terra)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O Comércio


Salvo algumas vocações muito especiais, o ser humano nasceu para viver em sociedade. As relações humanas de outrora eram muito mais salutares porque a religiosidade era muito maior e a caridade cristã era a “senhora” dos ambientes. Especialmente antes da Revolução Industrial, o trabalho manufaturado e artesanal propiciava as relações humanas muito saudáveis. Após a Revolução Industrial o ser humano se transformou numa pequena “máquina” produtora em série; isso afetou e muito as relações sociais. As profissões, as escolas, a sociedade, o relacionamento humano, as amizades, a sociedade em geral e inclusive a própria família, tudo isso pode ser resumido em relação social ou simplesmente comércio. E nesse caso não pode ser interpretado “comércio” apenas como comprar e vender, mas sim no seu sentido mais amplo: “a arte de viver em sociedade”. Comecemos pelo conceito de “comprar e vender” que há no comércio.

Existe um verbo muito antigo o qual não é mais usado no mundo moderno, mas que define muito bem o que seja comércio: mercanciar. Aliás não encontramos definição mais própria e tão simpática do que seja comércio ou comerciante:

"COMERCIANTE É QUEM FAZ DA MERCANCÍA PROFISSÃO HABITUAL."

Aliás, a palavra COMÉRCIO é tão antiga que não se pode precisar a data que surgiu. Sabe-se que, segundo dicionários etimológicos, COMÉRCIO originou-se do latim "commercium".

Uma prova da antiguidade da palavra comércio é o trecho do Pequeno Oficio da Bemaventurada Virgem Maria, segundo o Breviário da Ordem Carmelitana:

LAUDES
"2. Ant. - O admirabile commercium !
Creator generis humani,
animatum corpus sumens,
de Virgine nasci dignatus est:/"...


(2. Ant. - Ó admirável comércio !
O Criador do gênero humano
tomando corpo animado,
dignou-se nascer de uma Virgem)...


Lógico que o sentido de comércio, nesse caso, não tem conotação econômica, mas puramente religiosa. Daí vê-se que a palavra comércio tem uma profundidade de significado muito maior do que a que imaginamos hoje em dia.

O que há entre o céu e a terra senão trocas de orações e graças, sacrifícios e bênçãos...

O comércio nem sempre teve a significação econômica e fria que lhe deu essa terrível era moderna em que vivemos. Nossa era materialista, consegue transformar as mais belas coisas em frios relacionamentos. O homem moderno esqueceu-se das maravilhas do passado, onde as palavras tinham substância, tinham significados magníficos, tinham conteúdo. Por algum processo de decadência, o homem moderno foi transformando o significado de certas palavras, fazendo com que elas e seus significados acompanhassem o homem em sua crise tremenda.

Evidentemente que a prática do comércio acompanhou toda a história do homem, pois vivendo este em sociedade, teve que fazer trocas, vender, comprar, etc., em razão da própria sobrevivência.

Assim, durante toda a sua historia o homem praticou o comércio, embora, talvez, não o conhecesse por esse nome.

É o significado que consta no dicionário etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, de Antonio Geraldo da Cunha: "Comércio é permutação, troca, compra e venda de produtos e valores." Notem: “troca de valores”... é o relacionamento social do homem, através dos princípios da ética.

Comerciar também é trocar favores, fazer o bem; pois "O HOMEM QUE PRATICA A JUSTIÇA RECEBE A SUA PAGA".

Com o passar do tempo, com o crescimento da população, surgiram dificuldades e o homem passou a editar leis para regerem o comércio.

Surgiram as sociedades, as relações comerciais ficaram complexas e o homem mergulhou num universo, antes tão simples e natural, agora cheio de leis e regulamentos.

Entre as várias leis que regem o comércio está o CÓDIGO COMERCIAL BRASILEIRO, que é a lei n. 556, de 25 de junho de 1850, que foi promulgada por Dom Pedro Segundo, Imperador do Brasil, e que vigora até hoje.

UM POUCO DE HISTÓRIA:

Quando surgiram os Bancos às vezes o dinheiro ou o ouro tinham que serem transferidos para outra agência bancária. No começo tudo foi muito bem, mas não demorou muito para que as diligências que transportavam os valores fossem assaltadas no seu percurso. Transportar valores ficou perigoso.

Na Itália pensou-se no problema e tentando resolver a questão, puseram em prática uma interessante solução: Havia necessidade de transferir ouro de um banco para outro. Fazer pequenas e constantes viagens era perigoso em razão dos assaltos nas diligências. Então ao invés de transferir o ouro, um mensageiro levava uma carta ("lettera", em italiano), na qual autorizava a outra agência a creditar certa quantia de ouro. Quando já haviam muitas cartas ou "letteras", então uma grande diligência, com muito ouro e muito policiamento fazia um único e grande transporte. Assim se evitava o roubo.

Chegando ao Banco destinatário, este exibia as cartas ou "letteras" e essas eram trocadas pelo ouro enviado. Trocar em italiano é "cambiare". Essas cartas ficaram sendo conhecidas por "LETTERAS DI CAMBIARE" (cartas de troca): Assim surgiram as primeiras LETRAS DE CAMBIO, um título de crédito comum nos nossos dias.

O homem moderno, possivelmente, nunca saberá em qual momento histórico o seu antepassado trocou aquilo que lhe sobejava pelo que lhe faltava, iniciando um processo que, em fase posterior, daria nascimento ao comércio. O mesmo, felizmente não sucede relativamente ao Direito Comercial que, como direito especial, surgira na Idade Media, através das corporações de oficio.

(trechos de exposição feita em 1982 na Universidade de Direito por Jorge de Almas Castelos)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Uma lenda sobre a Beleza


Há uma lenda que fala sobre a beleza. Lenda essa esquecida pelos homens. Trata-se de uma lenda antiga, cheia de sabedoria.

Certa vez, por um triste capricho da Fatalidade, o poder do mundo foi cair nas mãos odientas da Vulgaridade.

— Que fez a Vulgaridade ao subir ao trono? Resolveu destruir e aniquilar a sua perigosa rival — a Beleza.

Chamando o Tédio, seu servo predileto, disse-lhe a execrável soberana:

— Detesto a Beleza! Quero fazê-la desaparecer da face da terra. Tens ordem para pendê-la e matá-la de qualquer modo.

O tédio respondeu:

— Escuto e obedeço, senhora! Mas, afinal, como é a Beleza? Como poderei encontrá-la, se não a conheço?

— Ora, nada mais simples — tornou a Vulgaridade. — Interroga um poeta qualquer e logo saberás como é a Beleza.

Partiu o Tédio. Encontrando um poeta interpelou-o:

— Como é a Beleza?

Sem hesitar, respondeu o poeta:

— Ainda ignoras? A Beleza é loura, de olhos azuis da cor do céu; a sua pele é clara e rosada, as suas mãos...

— Basta! Tudo o mais que disseres seria fastidioso e inútil. Já sei como é a Beleza! Vou descobri-la por mais oculta que esteja.

E o Tédio partiu em busca da Beleza...

Depois de muito caminhar, chegou ao país de Moab, para além do grande deserto. Um camponês repousava sob uma árvore.

— Terás visto, por aqui — perguntou o Tédio — a Beleza que procuro?

— Queres descobrir a Beleza! — exclamou o camponês. — Ei-la precisamente ali, ó forasteiro!

E apontou na direção de uma jovem que se encaminhava para a ponte, levando ao ombro um pequeno cântaro.

O Tédio procurou certificar-se. A graciosa moça era morena, de olhos verdes e cabelos castanhos como as filhas de Judá! Mas como diferia da que fora descrita pelo poeta! Não, não podia ser a Beleza!

— A Beleza fugiu para a China! — informou um peregrino.

Seguiu o Tédio para a China e indagou de um rico mandarim que soltava papagaios de seda:

— Senhor! Teria a Beleza aparecido em vossa terra?

— Apareceu, sim — replicou, alegre, o mandarim. — Ei-la!

E com o seu dedo de unha longa e angulada, apontou para uma moça ocupada em fabricar lanternas de papel.

O escravo da Vulgaridade preparou-se para executar a ordem que recebera. Enganara-se, porém, o informante. A jovem que o mandarim indicara era pálida, esguia, tinha os olhos amendoados, os cabelos negros e ondulados. Não; aquela não podia ser a Beleza!

O Tédio deixou o país dos chineses e foi em busca de outros climas. Diante dele a Beleza fugia sempre, ocultando-se astuciosamente. Todo o seu esforço tornou-se inútil. Não conseguiu encontrar e destruir a Beleza!

Mas a eterna e incomparável Beleza só a encontra quem a procura com sabedoria. Sigam esse conselho meus amigos e amigas:

— Eis por que a Beleza floresce e domina, sob aspectos tão diversos, quando a observamos, nos inconquistáveis recantos e países do mundo. Aqui é morena e tem olhos negros, mais adiante é loura, de claros olhos de anil. Aqui é viva e alegre, para, além, surgir sentimental e terna!

É que a Beleza, para fugir do mal do Tédio e ao perigo da Vulgaridade, varia sempre e sem cessar.

(fonte: "MINHA VIDA QUERIDA - OS SEGREDOS DA ALMA FEMININA NAS LENDAS DO ORIENTE - Malba Tahan) - (Ilustrações de: Calmon Barreto, Solon Botelho e Renato Silva)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

São João, o Teólogo - Conclusão


Eu ia fazer duas postagem deste assunto, mas achei que seria melhor faze-lo numa só. Eis:

O discípulo amado. São João Evangelista, o Apóstolo Virgem, é sem dúvida um dos maiores santos da Igreja, merecendo o título de "o discípulo a quem Jesus amava". Junto à Cruz, recebeu do Redentor Nossa Senhora como Mãe, e com Ela - como Fonte da Sabedoria - a segurança doutrinária que lhe mereceu dos Padres da Igreja o título de "o Teólogo" por excelência.

Estavam Simão e André lançando as redes às águas, quando passou Jesus e lhes disse: "Vinde após mim. Eu vos farei pescadores de homens". Mais adiante estavam Tiago e João numa barca, consertando as redes. "E chamou-os logo. E eles deixaram na barca seu pai Zebedeu, com os empregados, e O seguiram" (Mc 1, 16 a 20).

A partir de então passaram a acompanhar o Messias em sua missão pública. Logo se lhes juntaram outros, que perfariam o número de doze, completando assim o Colégio Apostólico.

Desde logo, Pedro, Tiago e João tomaram preeminência sobre os outros Apóstolos, tornando-se os "escolhidos dentre os escolhidos". E, como tais, participaram de alguns dos mais notáveis episódios na vida do Salvador, como a ressurreição da filha de Jairo, a Transfiguração no Tabor e a Agonia no Horto das Oliveiras.

São João foi também um dos quatro que estavam presentes quando Jesus revelou os sinais da ruína de Jerusalém e do fim do mundo. Mais tarde, com São Pedro, a quem o unia respeitosa e profunda amizade, foi encarregado de preparar a Última Ceia. São Pedro amava ternamente São João, e essa amizade é visível tanto no Evangelho quanto nos Atos dos Apóstolos.

Por sua pureza de vida, inocência e virgindade, João tornou-se logo o discípulo amado, e isso de um modo tão notório, que ele sempre se identificará em seu Evangelho como "o discípulo que Jesus amava". Apesar de os Apóstolos não estarem ainda confirmados em graça, isso não provocava neles inveja nem emulação. Quando queriam obter algo de Nosso Senhor, faziam-no por meio de São João, pois seu bom gênio e bondade de espírito tornavam-no querido de todos.

Se Nosso Senhor amava particularmente São João, também era por ele amado de maneira especialíssima. Com seu irmão Tiago, recebeu de Cristo o cognome de "Boanerges", ou "filhos do trovão", por seu zelo. Indignaram-se contra os samaritanos, que não quiseram receber o Mestre, e pediram-Lhe para fazer descer sobre aqueles indóceis o fogo do céu.

Foi por esse amor, e não por ambição, que ele e o irmão secundaram a mãe, Salomé, solicitando que um e outro ficassem à direita e à esquerda do Redentor, em seu Reino (um tanto equivocadamente, pois imaginavam ainda um reino terreno). Quando Nosso Senhor perguntou-lhes se estavam dispostos a beber com Ele o mesmo cálice do sofrimento e da amargura, com determinação responderam afirmativamente.

Entretanto, uma das maiores provas de afeição de Nosso Senhor a São João deu-se na Última Ceia. Quis o Divino Mestre ter à sua direita o Apóstolo Virgem, permitindo-lhe a familiaridade de recostar-se em seu coração. Diz Santo Agostinho que nesse momento, estando tão próximo da fonte de luz, ele absorveu dela os mais altos segredos e mistérios que depois derramaria sobre a Igreja. Foi o primeiro a ser devoto do Sagrado Coração de Jesus.

São João foi o primeiro a ser consagrado à Nossa Senhora, pelo próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, pois no calvário deu a ele Maria como sua Mãe e a Ela, ele como seu filho. Foi então que, recebendo-A como Mãe, obteve o maior legado que criatura humana jamais podia receber. Diz São Jerônimo: "João, que era virgem, ao crer em Cristo permaneceu sempre virgem. Por isso foi o discípulo amado e reclinou sua cabeça sobre o coração de Jesus. Em breves palavras, para mostrar qual é o privilégio de João, ou melhor, o privilégio da virgindade nele, basta dizer que o Senhor virgem pôs sua Mãe virgem nas mãos do discípulo virgem". Ensinam os Padres da Igreja que esse grande Apóstolo representava naquele momento todos os fiéis. E que, por meio de São João, Maria nos foi dada por Mãe, e nós a Ela como filhos. Mas João foi o primeiro em tal adoção.

Foi ele também o único dos Apóstolos a presenciar e a sofrer o drama do Gólgota, servindo de apoio à Mãe das Dores, que com seu Filho compartilhava a terrível Paixão.

Quando, no Domingo da Ressurreição, Maria Madalena veio dizer aos Apóstolos que o túmulo estava vazio, foi ele o primeiro a correr, seguido de Pedro, para o local. E depois, estando no Mar de Tiberíades, aparecendo Nosso Senhor na margem, foi o primeiro a reconhecê-Lo.

Nos Atos dos Apóstolos, ele aparece sempre com São Pedro. Juntos estavam quando, indo rezar no Templo junto à porta Formosa, um coxo pediu-lhes esmola. Pedro curou-o, e depois pregou ao povo que se reuniu por causa de tal maravilha. Juntos foram presos até o dia seguinte, quando corajosamente defenderam sua fé em Cristo diante dos fariseus. Mais adiante, quando o diácono Felipe havia convertido e batizado muitos na Samaria, era necessário que para lá fosse um dos Apóstolos a fim de os crismar. Foram escolhidos Pedro e João para a missão.

São Paulo, em sua terceira ida a Jerusalém, narra em sua Epístola aos Gálatas (2, 9) que lá encontrou "Tiago, Cleofas e João, que são considerados as colunas", e que eles, "reconhecendo a graça que me foi dada [para pregar o Evangelho], deram as mãos a mim e a Barnabé em sinal de pleno acordo".

Depois disso os Evangelhos se calam a respeito de São João. Mas resta a Tradição. Segundo esta, ele permaneceu com Maria Santíssima durante o que restou de sua vida mortal, dedicando-se também à pregação. Depois da intimidade com o Filho, o Apóstolo virgem é chamado a uma estreita intimidade de alma com a Mãe que, sendo a Medianeira de todas as graças, deve tê-lo cumulado delas em altíssimo grau. Que grande virtude deveria ter alguém para ser o custódio da Rainha do Céu e da Terra!

Assim, teria ele permanecido com Ela em Jerusalém e depois em Éfeso. "Dois motivos principais deveriam ter ocasionado essa mudança de residência: de um lado, a vitalidade do cristianismo nessa nobre cidade; de outro, as perniciosas heresias que começavam a germinar. João queria assim empenhar sua autoridade apostólica, quer para preservar quer para coroar o glorioso edifício construído por São Paulo; e sua poderosa influência não contribuiu pouco para dar às igrejas da Ásia a surpreendente vitalidade que elas conservaram durante o século II".

Após a dormição de Nossa Senhora — que é como a Igreja chama o fim de sua vida terrena — e a Assunção d'Ela aos Céus, fundou ele muitas comunidades cristãs na Ásia menor.


VIVO APÓS O MARTÍRIO

Ocorre então o martírio de São João, que é comemorado no dia 6 de maio. O Imperador Domiciano o fez prender e levar a Roma. Na Cidade Eterna, ele foi flagelado e colocado num caldeirão de azeite fervendo. Mas o Apóstolo virgem saiu dele rejuvenescido e sem sofrer dano algum. Domiciano, espantado com o grande milagre, não ousou atentar uma segunda vez contra ele, mas o desterrou para a ilha de Patmos, que era pouco mais do que um rochedo. Foi ali, segundo a Tradição, que São João escreveu o mais profético dos livros das Sagradas Escrituras, o Apocalipse.

Após a morte de Domiciano, o Apóstolo voltou a Éfeso. É lá que, segundo vários Padres e Doutores da Igreja, para combater as doutrinas nascentes de Cerinto e de Ebion — que negavam a natureza divina de Cristo — escreveu ele seu Evangelho 4. Ordenou antes a todos os fiéis um jejum que ele mesmo observou rigorosamente, para em seguida ditar a seu discípulo Prócoro, no alto de uma montanha, o monumento que é seu Evangelho. Transportado em Deus, com um vôo de águia, ele o começa de uma altura sublime: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus". Este Evangelho, dos mais sublimes textos jamais escritos, era tido em tanta veneração pela Igreja, que figura no ordinário da Missa promulgada por São Pio V, pela fundamental doutrina que contém.

Segundo São João Crisóstomo, os próprios Anjos aí aprenderam coisas que não sabiam.

São João escreveu também três Epístolas, sempre visando estabelecer a verdadeira doutrina contra erros incipientes que se infiltravam na Igreja.

Segundo uma tradição, o discípulo que Jesus amava teria morrido em Éfeso, provavelmente em 27 de dezembro do ano 101 ou 102.

Mas alguns exegetas levantam a hipótese de ele não ter falecido, com base na seguinte passagem do Evangelho: logo após a pesca milagrosa no lago de Tiberíades — depois da Ressurreição de Jesus — Nosso Senhor confiou mais uma vez a Igreja a São Pedro. Este, voltando-se a Nosso Senhor, perguntou-lhe, referindo-se a São João: "E este? Que será dele?" Respondeu-lhe Jesus: "Que te importa se eu quero que ele fique até que eu venha?" O próprio São João comenta: "Correu por isso o boato entre os irmãos de que aquele discípulo não morreria. Mas Jesus não lhe disse `não morrerá', mas `que te importa se quero que ele fique assim até que eu venha?'" (Jo 21, 15 a 23).

fonte:
http://www.lepanto.com.br/dados/HagJEv.html